CASA CADAVAL

A nossa história

O Palácio da herdade de Muge tem uma história secular, que remonta a vários anos antes de pertencer à família Cadaval. Em tempos terá sido habitado pela Rainha D. Leonor de Áustria (terceira mulher de Rei Manuel I, irmã do Imperador D. Carlos V e mãe da Infanta Dona Maria), que aqui viveu até 1530, altura em que a se casou com o Rei de França, Francisco I. Só mais tarde, no início do séc. XVII, é que a propriedade, então pertença da família dos Condes de Odemira, passou a estar sob o domínio da Casa Cadaval, quando a filha, Dona Maria de Faro, Condessa de Odemira, se casou com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 5º Conde de Tentúgal, 4º Marquês de Ferreira e o 1º Duque de Cadaval. A Casa Cadaval tem atualmente uma propriedade que totalizam cerca de 5400 hectares e é gerida, há 5 gerações consecutivas, por mulheres, sendo hoje Teresa Schönborn, Condessa de Schönborn e Wiesentheid, a presidente do conselho de administração desta Casa.

Marquesa de Cadaval

O caso de uma mecenas muito especial!

“ A Senhora Marquesa de Cadaval descende de uma antiga família da mais alta aristocracia europeia, profundamente envolvida no mecenato e no mundo musical. Entre os seus mais ilustres antepassados figuram não só Catarina da Rússia, mas também Frederico II da Prússia, o magnífico rei alemão – ele mesmo um bom músico, amigo de Johan Sebastian Bach e patrocinador de Carl Philip Emmanuel Bach que para ele trabalhou em Sans-Souci.

Outros nomes relevantes, que se podem encontrar na genealogia da Marquesa de Cadaval, são Mikail Golenitchev-Kutuzov, o célebre marechal de campo, vencedor da batalha de Smolensk, para além de sete Doges de Veneza, com especial destaque para Girolano Mocenigo, que teve o privilégio de apoiar o grande compositor Cláudio Monteverdi (Cremona, 1567-Veneza, 1643) tendo-lhe encomendado a ópera Combatimento di Tancredo e Clorinda, cuja primeira representação teve lugar, precisamente, no seu palácio de Veneza.

Olga Nicolis di Robilant nasceu em Turim, no dia 17 de Janeiro de 1900. Florença e Veneza foram cidades onde colheu ensinamento e esmeradíssima educação durante a infância e juventude, tendo revelado, desde muito cedo, um particular interesse e afeto pelo piano. Nos tempos da Primeira Guerra Mundial, enquanto voluntária da Cruz Vermelha, serviu como enfermeira radiologista. Foi nessa altura que conheceu uma portuguesa, que lhe apresentou Dom António Caetano Álvares Pereira de Melo, Marquês de Cadaval, com quem veio a casar em Julho de 1926. Três anos mais tarde, o casal veio para Portugal, estabelecendo-se na Quinta da Piedade, em Colares. A Senhora Marquesa teve um especial papel na recuperação do património da família portuguesa não só em Sintra mas, igualmente, noutras propriedades como a Herdade de Muge. Infelizmente, Dom António veio a falecer pouco tempo depois, em 1939. Dona Olga, mãe de duas filhas e ainda uma jovem viúva, dedicou-se a atividades musicais.

Tornou-se Presidente da Sociedade de Concertos – que tinha sido fundada por José Vianna da Motta, em 1917 – tendo introduzido mudanças profundas, cuja principal consequência foi a presença regular em Lisboa dos mais extraordinários artistas, da maior fama mundial, em concertos inesquecíveis. No entanto, o seu nome também tem de ser obrigatoriamente referido quanto ao mecenato que exerceu em relação a jovens e talentosos artistas que, mais tarde, se tornaram tão conhecidos e famosos como Nelson Freire, Roberto Szidon, Martha Argerich, Jacqueline Dupré, Daniel Barenboim e muitos outros. Benjamin Britten – o grande compositor britânico que tantas vezes convidou para o seu palácio de Veneza – foi também um dos seus protégés, que em sua honra compôs, em 1964, a parábola religiosa Curlew River.

Impõe-se que mencionemos apenas alguns nomes da sua interminável galeria de amigos pessoais: Gabriele D’Annunzio, Marinetti, Giacomo Puccini (vizinho e pai de uma amiga), Nella Maïssa, Rei Humberto II, Maria José de Savoy, Eugénio Paccelli (futuro Papa Pio XII), Cole Porter, Maurice Ravel, André Malraux, Coco Chanel, René Huyghe, Arthur Rubinstein, Ygor Stravinski, Mstislav Rostropovitch, Ortega Y Gasset, Graham Green, Saul Bellow, Maurice Maeterlinck, Louise de Vilmorin, Imperador Franz Joseph (que ela designava como Il Kaiserone), Princesa Polignac, Henry Breuil, Kenneth Clark, Frau Cosima (filha de Liszt e viúva de Richard Wagner), Marconi, Olga Pratts, José Vianna da Motta, a família Freitas Branco – Luís, o compositor, Pedro, o maestro e João, o musicólogo –, Vitorino Nemésio, Virgínia Rau, Fernando Lopes Graça, Maria Germana Tânger. Por muito incrível que possa parecer, trata-se de uma lista deveras reduzida…

A Senhora Marquesa de Cadaval morreu em Lisboa, em 21 de Dezembro de 1996, tendo sido sepultada no mausoléu da família, no cemitério de Muge, perto de Salvaterra de Magos. O Festival de Sintra terá sido um dos grandes beneficiários do seu mecenato.

Tantas provas de carinho por parte da Senhora Marquesa de Cadaval, suscitaram a única atitude possível de perene gratidão de Sintra perante a memória de tão insigne figura. Em meados do ano 2000, por ocasião do fim das obras de total remodelação, do até então denominado Cine-Teatro Carlos Manuel, o Executivo Municipal decidiu instituir Dona Olga Maria di Robilant Álvares Pereira de Melo como patrona do novo Centro Cultural, um dos melhores auditórios de referência nacional que, a partir de então, ostenta na fachada o nome como era geralmente conhecida a Senhora Marquesa. A sua memória ocupa também um lugar especial nos nossos corações”

Mário João Machado